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“Precisamos trabalhar para inverter a lógica. É o Estado que deve servir ao cidadão", diz vereador eleito Leonardo Dias

Fillipe Lima 23/11/2020
“Precisamos trabalhar para inverter a lógica. É o Estado que deve servir ao cidadão", diz vereador eleito Leonardo Dias

O Portal CadaMinuto conversou com o vereador eleito Leonardo Dias (PSD). Ele é o primeiro nome do conservadorismo alagoano a chegar à Casa de Mário Guimarães com pautas de direita, como ele mesmo assim se assume. Em entrevista, Dias destaca como será possível, em sua visão, usar do pensamento conservador para construir pautas concretas para Maceió. Ele fala ainda dos primeiros projetos que pretende apresentar na Câmara de Maceió, além de analisar aspectos da conjuntura nacional e local.

Leonardo Dias é empresário e foi eleito em sua segunda disputa por uma cadeira do Legislativo da capital alagoana. Oriundo dos movimentos de rua que pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Dias foi um dos líderes do MBR e agora, segundo ele mesmo, parte para uma nova missão. Leia a íntegra da entrevista.

O senhor é um candidato que foi eleito defendendo as bandeiras do conservadorismo. De forma prática, como isso se dará em Maceió?

É válido ressaltar que defendo os valores cristãos por ser católico, e os valores conservadores há muito tempo. Meu ativismo político se iniciou pela luta contra o aborto. Nunca pensei que disso fosse derivar uma candidatura. Portanto, foi um processo natural que me levou a colocar meu nome à disposição duas vezes. Agora, tivemos o êxito por meio de uma campanha limpa e propositiva. Todas as propostas que apresentamos possuem viabilidade e estão dividas em eixos temáticos que vão da liberdade econômica à austeridade, passando pela Saúde e pela Educação. Respondendo de forma prática, é preciso compreender que o conservadorismo não é uma ideologia, mas sim a compreensão de que, na eterna busca pela verdade e pela conduta honesta, devemos nos apoiar sempre nas conquistas do passado, nas experiências que deram certo e nos valores virtuosos que sustentaram essas experiências e que renderam melhorias à sociedade e, a partir daí, procurar avançar sempre no combate às injustiças, na ajuda ao próximo e na prática do que é bom. Para Maceió, por exemplo, pensamos em medidas, como o projeto do marco da Liberdade Econômica, que garanta a desregulação, a desburocratização e o direito ao trabalho, que vai ajudar sobretudo os mais vulneráveis, os pequenos empreendedores, gerar mais renda e emprego. Temos projetos com foco na Saúde da mulher, na defesa da Educação de qualidade para nossas crianças, na defesa do ensino cívico-militar, na articulação para a criação de um Centro de Tradições Nordestinas, visando o resgate do folclore, dentre outras. Além disso, a fiscalização para que o Estado respeite o cidadão. Precisamos trabalhar para inverter a lógica. É o Estado que deve servir ao cidadão e não o contrário. É por isso, por exemplo, que queremos fiscalizar o CORA, criar critérios para nomeações em postos de Saúde etc.

O pensamento conservador é visto como fundamentalista por alguns setores da sociedade. O que o senhor teria a dizer sobre isso?

Somos alvo de uma campanha de desinformação constante em que se coloca o conservador como fascista, extrema-direita e toda essa patifaria promovida pelas ideologias de esquerda. Qualquer pessoa que estude vai perceber que na História da esquerda sempre há um rastro de sangue, miséria e fome, como foi desde a URSS a mais recente Venezuela. Eles é que defendem a ampliação do poder coercitivo do Estado em uma visão romântica de que o Estado vai cuidar de tudo. No final das contas, entregam um Estado que quer se intrometer em cada aspecto da vida do cidadão e acaba por desrespeitar os valores da própria sociedade, querendo subverter tudo por conta de uma visão ideológica, como ocorre hoje no ataque ao Cristianismo, à família etc. Eu não tenho absolutamente nada de sectário ou fundamentalista. Eu tenho sim uma Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo e valores cristãos sólidos que são nortes de minhas condutas, o que inclui o respeito ao próximo e a busca por promover o bem apesar dos meus defeitos. Sou um conservador que busca conservar o que é justo e mudar o que está errado. É isso que quero buscar fazer no mandato, respeitando as liberdades individuais, com capacidade de diálogo e respeito, mas sem abrir mão dos valores e da missão de honrar não só quem votou em mim, mas cada maceioense, sendo assim sempre sincero na defesa dessas pautas e dos projetos que vamos apresentar. Espero que as pessoas – como tem ocorrido cada vez mais – não se deixem guiar pelos espantalhos feitos por uma ideologia, mas busquem conhecer o conservadorismo em suas fontes primárias, no estudo de pensadores como Burke, Chesterton, e conheçam a vida de cristãos como Padre Pio. Verão a beleza profunda que há nisso tudo e o quanto isso é diferente das ideologias que mais corromperam o mundo enquanto prometiam um mundo melhor e entregavam genocídios.

Como o senhor vai se comportar em relação ao Executivo?

Minha missão na Câmara Municipal de Maceió independe do prefeito eleito. É buscar o melhor para a população custe o que custar, doa a quem doer. O que posso dizer é que jamais comungarei com ideais da esquerda e combaterei coisas como ideologia de gênero, estatismos desenfreados, subversão de valores, ataques à inocência de nossas crianças etc. Enfim… estou comprometido com todas as pautas que defendi na campanha. Agora, independente do prefeito, se algo for bom para Maceió votarei a favor. Se algo for ruim para Maceió, serei contra. Esse é o critério. Não farei oposição pela oposição. Não me interessa barulho panfletário, mas sim pautas concretas, objetivas que possam mudar a vida do nosso povo para melhor. A população espera de nós soluções e não uma eterna discussão estéril.

O senhor já decidiu em quem vai votar para prefeito de Maceió no segundo turno?

Primeiro ponto: não voto na esquerda de forma alguma. Nesse sentido, está descartada a possibilidade de voto ao deputado federal JHC. Não é uma questão pessoal, mas sim de pautas. Não creio em um projeto capitaneado pelo PSB e PDT, partidos do Foro de São Paulo, que hoje tentam montar um bloco de sustentação para a candidatura de Ciro Gomes. São ideias com as quais tenho completa divergência. Quanto ao Alfredo Gaspar, é um amigo. Gosto do Alfredo Gaspar e torci para que ele entrasse na política. Isso não é segredo. Defendi, inclusive a sua candidatura – em outro contexto – quando ele pensou em disputar o Senado. Infelizmente, Alfredo Gaspar fez escolhas que eu critico, como receber o apoio dos Calheiros. Ainda avalio, portanto, se dentro dessas circunstâncias seria esse o meu voto. Mas após a reflexão, minha posição tomada será informada ao eleitor. Todavia, respeito aquele que é de direita e que, dentro dessa conjuntura, optou pelo voto nulo. Afinal, é difícil para a direita se ver representada em uma candidatura de esquerda, de um lado, e uma campanha com total apoio dos Calheiros do outro. Entendo isso. Mas tenho um respeito imenso pela pessoa do Alfredo Gaspar. Inclusive, por ser meu amigo, ele sabe dessa minha posição. Tanto é assim que no primeiro turno fiz uma campanha totalmente independente, apesar do PSD estar com Alfredo Gaspar. Por sinal, agradeço ao partido ter me dado essa independência.

Por quais projetos o senhor pretende iniciar o seu mandato na Câmara de Maceió?

O primeiro foco deverá ser a Saúde. Acho que requer urgência. Então, quero apresentar um requerimento para criar uma Comissão Especial de Investigação para saber o que ocorre hoje com o CORA. As pessoas de Maceió sofrem na fila de espera. Precisamos também discutir a questão das nomeações dos postos de Saúde. Não pode haver loteamento político na Saúde e nomeações sem critérios para servirem apenas para compor bases. Há também uma ação que engloba a Cultura. Quero apresentar um projeto de lei que garanta formas de ajuda aos artistas locais. Precisamos fomentar a cultura, mas não apenas tratando o artista como um coitadinho, mas sim como um patrimônio histórico que temos, pois além de ser um mercado que pode ser fomentado, pois gera empregos, é também uma alternativa para resgatar valores, educar e dar perspectivas a muitos jovens, assim como ocorre com políticas que são direcionadas ao esporte. Outro projeto que pretendemos trabalhar logo no início é o do marco da Liberdade Econômica para Maceió.

Qual a sua expectativa para a futura legislatura da Câmara de Maceió?

Eu sempre espero que possamos melhorar. Entro na Casa de Mário Guimarães querendo ajudar nos bons projetos, independente desses serem de minha autoria ou não. Fico feliz em saber que, além de mim, há uma outra cadeira pertencendo a alguém também “pró-vida”, que é a vereadora Gaby Ronalsa (Democratas), que já se declarou assim. Tenho afinidade com algumas posições – na área de segurança pública – assumidas pelo delegado Fábio Costa, apesar do partido dele. Tenho uma boa relação com os meus dois companheiros de bancada e, na época em que era só ativista político, construí bom diálogo com muitos dos que lá se encontram e renovaram seus mandatos. Agora, nunca deixei de criticá-los ou criticar o Poder Legislativo, pois o papel de fiscalizador também requer isso. Assim como sei que, enquanto figura pública, serei criticado por algumas de minhas ideias e é para isso que a democracia existe, para que se trave o debate. Então, é natural que o Legislativo seja plural. Que bom que assim é. Uma lição de Santo Agostinho é a seguinte: melhor os que nos criticam porque nos corrigem do que os que nos adulam porque nos corrompem. Então, minha expectativa é a de poder fazer um debate franco, honesto e com foco no melhor por Maceió. É o que farei.

Por qual razão o seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro?

Apoio o Jair Bolsonaro. Se as eleições presidenciais fossem hoje, votaria nele novamente. Isso não quer dizer que ache que não haja erros no governo federal. Há. Quem acompanha minhas redes sociais verá que já teci críticas. Agora, confio que o presidente quer o melhor para o país e que tem conseguido avanços importantes, como a Reforma da Previdência, como a redução significativa da corrupção do governo, que foi desenfreada e com estratégia de poder na época petista. Além disso, Bolsonaro estancou uma agenda ideológica socialista que visava a completa subversão de valores no país. Sou contra o aborto, o presidente também. Sou a favor do livre mercado, o presidente também. Sou contra o socialismo, o presidente também. Acho que precisamos descentralizar o poder e desburocratizar, o presidente também. Por essas e outras, o meu apoio. Erros existem em qualquer governo, assim como – em um mandato de quatro anos – pode haver momentos em que eu erre, mesmo com a melhor das intenções. Espero que o meu eleitor cobre, discuta comigo e saiba que eu busco acertar e saberei ouvir. Dentro do atual contexto, acho que Bolsonaro cumpre uma missão que tem meu apoio.

Como o senhor avalia o resultado da direita nessas eleições?

Tivemos algumas vitórias, assim como tivemos muitas derrotas. Precisamos aprender com as lições. A esquerda também perdeu muito nessas eleições, o que mostra que essa ideologia segue sendo rejeitada por grande parte da população brasileira. Houve muitas vitórias nos partidos do chamado Centrão. A leitura desse cenário mostra que nós da direita precisamos aprender a nos organizar melhor, comunicar melhor nossas ideias e não pensarmos apenas em eleições, mas também em iniciativas que mostrem claramente o que é o pensamento conservador e o que ele pode promover como soluções práticas na vida das pessoas, na melhoria da Educação dos nossos filhos, dentre outras questões. Eu não tenho dúvidas de que a melhoria do país virá por um resgate dos valores morais, da descentralização de poder, da desburocratização, do incentivo ao empreendedorismo, da liberdade econômica para a geração de emprego e renda, do respeito à família, de uma Educação que foque na formação do indivíduo sem perder tempo com ideologizações e mentalidades revolucionárias, com melhorias dos mecanismos de controle e fiscalização do dinheiro público e com a redução do poder coercitivo do Estado. Isso – em minha visão – está intimamente ligado ao pensamento que move a direita. Portanto, a solução é pela direita. Nesse processo, destaco ainda a importância de se fomentar novas lideranças. Não quero ser um político profissional. Estou na Câmara de passagem. Outros nomes, nessa linha de pensamento, precisam existir, se formarem e terem o mesmo êxito para assim haver renovação.